A escrita é considerada uma das bases da nossa civilização. Antes de se tornar escrita propriamente dita, a linguagem visual1era baseada em pictogramas, desenhos fragmentados que se referiam a idéias genéricas como "homem", "abrigo", "caça". Depois, passou a ser constituídas de ideogramas, que são figuras fixas simplificadas que representam objetos ou idéias. Algumas escritas orientais (como o japonês e o chinês) ainda são baseadas em ideogramas. O terceiro estágio, que o estágio de desenvolvimento das línguas ocidentais, é o distanciamento do significado original e a mudança da escrita para um conjunto de símbolos — fonogramas — que representam sons orais. A possibilidade de representar a palavra falada trouxe inúmeros avanços e foi crucial no desenvolvimento das ciências e das artes.
Quando lemos um texto, ou uma palavra, nosso cérebro observa determinadas formas e as reconhece como letras, e, associando-as, podemos reconhecer uma palavra. Conhecendo o código necessário, no caso a língua, podemos compreender o significado, ou seja, reconhecer numa frase, uma idéia. Este mecanismo propicia aos seres humanos que sabem escrever a capacidade de registrar, e de transmitir para outros que saibam ler, suas idéias, sem que sua presença física seja necessária.
Assim, escrita elimina o problema do tempo. Quando abrimos um livro, podemos passar o olho de linha em linha e procurar diretamente a informação que desejamos, virar as páginas e mudar de capítulo, sem contar que o tempo de leitura é bem inferior ao tempo de fala (a não ser em caso de maus leitores). Além disso a escrita propicia desenvolvimento de raciocínios mais complexos, e mesmo que já existam outros meios de transmissão de cominicação e gravação como fitas magnéticas, cd, dvd, vídeo, e internet, a escrita não irá ser abandonada tão cedo.
Mas não é por nossa escrita ser fonêmica que ela é um congelamento da palavra falada. A escrita carece de tônica, não contém gesto e nem ênfase , o que prejudica o sentido em algumas situações (principalmente a tipografia, uma vez que a escrita cursiva é considerada mais despojada e expressiva) e alguns designers acreditam que seu papel é exatamente o de conferir essa expressão2 que falta à escrita, mas as opiniões variam muito quanto a esse papel.
A comunicação escrita varia de acordo com vários fatores, como o domínio e conhecimento do código pelo escritor e pelo leitor, e das condições de apresentação e aparência do texto. Embora todos esses fatores determinem a legibilidade de um texto, este trabalho só irá se concentrar naqueles aspectos que são de responsabilidade do designer. Entre esses aspectos estão: forma geral dos caracters, detalhe de execução dos caracteres, tamanho dos caracteres,compromento das linhas, espaço entre linhas, escolha da cor, escolha do papel e do método de apresentação e divisão tipográfica do texto.
Numa tentativa de investigar acerca do tratamento dado ao texto na comunicação escrita, eu me deparei com uma série de regras e normas para uma organização correta do texto, mas em raríssimas ocasiões essas regras estavam acompanhadas de razões concretas para sua aplicação. Minha intenção nessa pesquisa foi investigar a legibilidade, por acreditar que esse seja o primeiro objetivo do designer, ou diagramador, quando está realizando um trabalho.
Legibilidade, nos termos dessa pesquisa, não é exatamente equivalente ao termo legibility, que define os parâmetros para melhor eficiência da leitura, mas ao termo readability que se refere a a capacidade de comunicar e manter a atenção do leitor.
Nessa busca, o caminho inicial foi o de pesquisar material teórico a respeito de métodos de pesquisa de legibilidade, experimentos científicos, e outras teorias a respeito de design gráfico, além de textos de críticos e historiadores do design, afim de encontrar, regras, normas, métodos científicos de avaliação, métodos teóricos de avaliação e tentar entender o quê no design é fato, o quê é lei e o quê é simplesmente etiqueta, para depois tentar entender a validade e aplicabilidade dessas diretrizes no processo de tomada de decisão do designer.
Uma das constatações iniciais, é que as pesquisas de legibilidade estão estão muito distantes do mundo de prática da maioria dos designers, embora a justificativa de legibilidade esteja, na maioria das vezes, justificada empiricamente ou pela prática. Outra constatação é que muito pouco material sobre o tema está a disposição tanto nas bibliotecas quanto nas livrarias. Assim, não é de se estranhar a falta de familiaridade dos profissionais, amadores e estudantes com o assunto. Além disso, existe uma grande distância entre a maioria das pesquisas científicas e as práticas profissionais, até em termos de linguagem. Enquanto os textos de designers são vagos e carecem de argumentação, os textos científicos são excessivamente metódicos e não cativam nenhuma simpatia.
Reunindo leituras desses dois lados, e também de alguns campos híbridos, como o interessante "design da informação" consegui reunir bastante informação a respeito dos aspectos tipográficos que podem influênciar na legibilidade, ou na comunicação escrita. O objeto final dessa pesquisa não é um manual de boa legibilidade, mas um compêndio de resultados de experiências e teorias a respeito do tema, afim de disponibilizar bibliografia e material a respeito. Além disso, visa reunir resultados de experimentos acerca da legibilidade de textos impressos a novas pesquisas voltadas para o novo cenário de aumento crescente de leitura em dispositivos eletrônicos, principalmente devido à difusão da internet e da popularização dos personal computers.
Essa mudança fez os leitores depararem com uma forma completamente distinta de representação, uma resolução bem inferior, e com novas formas de busca e encadeiamento de informações ou navegação — o hipertexto e além disso, dotou os designers e tipógrafos com novas ferramentas de trabalho, como o HTML e o CSS.