É muito claro que todas as resoluções encontradas são apenas parâmentros e indicações de caminhos. Algumas constatações, como por exemplo "texto preto sobre fundo branco é mais legível" não são novidade para nenhum designer com alguma experiência, mas mesmo que esses resultados não sejam totalmente válidos e definitivos, muita coisa pode ser tirada de útil, principalmente para a educação de novos designers.
Uma das conclusões úteis que se pode tirar é que vários dogmas tipográficos são como etiqueta, e não têm nenhum respaldo técnico real, como por exemplo a indicação do uso de amplas margens, ou os cuidados excessivos com os rios e com as quebras delinha (viúvas e órfãos), e mesmo quanto ao uso de itálico em texto corrido, que se mostrou muito menos prejudicial do que deixar o texto serrilhado na direita, por exemplo. Parece que esse tipo de coisa serve muito mais para diferenciar e qualificar os designers entre si do que para uma maior efici6encia da leitura (e conseqüentemente da comunicação). E justamente nas questões onde as pesquisas são mais conclusivas, como no caso do uso das serifas e da justificação do texto, é que parece haver mais polêmica.
Isso reflete um pouco o descolamento dos designers do mundo das pessoas comuns. Hans Kleefeld, em um artigo sobre David Carson, escreveu:
"Se alguém tivesse que colocar os designers gráficos em categorias, elas seriam três: Solucionadores de problemas, estrelas e pragas
Estrelas, então, são uns indivíduos seletos cuja combinação de circunstâncias os elevou à iluminação profissional. As estrelas normalmente se tornam o que são através de trabalhos irreverentes que muitos solucionadores de problemas gostriam de ter feito, mas não tiveram a coragem para fazer e vender; e claro; através de uma descarada auto-promoção. David Carson, como o britânico Neville Brody e o canadense Bruce Mau, é um membro desse grupo que parece inspirar eternamente alguns enquanto irrita outros.
Pragas, finalmente, são hordas de micreiros cujas proezas em software só são superadas pelo jeito com que pegam leve em certas regras básicas e de senso comum de tipografia e design, cujos solucionadores de problemas resolvem conscientemente e os sacerdotes gostam de quebrar com energia. Pragas formam uma massa escura, melhor ignorada, se não fosse pelo temível prospecto de que eles podem inconscientemente levar-nos um passo mais perto do design virtual e de Maclayouts."
Essa é uma tendência natural do design gráfico: "Eu quebro as regras! Eu sou bom!" Mas esse tipo de pensamento não é libertário, é apenas um discurso de auto-promoção, de sobrevivência por diferenciação, que é um reflexo dos valores da nossa sociedade, onde a desigualdade é que provoca o crescimento, mas não uma desigualdade no sentido de uma pluralidade ou riqueza de diversidade, mas uma desigualdade que coloca as coisas em classes, categorias diferentes.
Cetamente é normal que o designer se preocupe com as pragas e com as estrelas, e que os solucionadores de problemas fiquem num meio-termo, porque afinal alguém tem que fazer o trabalho sujo, a grande maioria dos trabalhos "normais", que não merecem o salário astronômico das grandes estrelas do design, ou não podem parecer exdrúxulos ou extravagantes, ou simplesmente esse tipo de leitor não é seu público-alvo.
o grande problema são as pragas, porque estes dominam as novas ferramentas de trabalho e podem até enganar, copiar e fazer um trabalho brilhante ficar datado, ao ponto de poder ser julgado passado pouco tempo depois, cada vez mais rápido — "nossa, que coisa mais 1998!"— O que é completamente natura, se o mais importante é a inovação por ela própria, se o contêiner é mais importante que o conteúdo.
O interesse em estudar seriamente as pesquisas científicas era de fugir um pouco desse reino do discurso, mesmo que do discurso visual, e tentar entender o que um designer, ou um escritor qualquer — uma vez que a digitação não é mai privilégio de profissionais — deve saber para que seu texto seja lido de maneira eficiente, para que não incomode o olhar, e para que a informação desejada seja encontrada, sem ter que apelar para condições sobrenaturais e circunstâncias especiais.
Mas, infelizmente (ou não), um ano de pesquisa não foi suficiente para convencer solidamente à respeito de alguma "norma definitiva". A maioria das pesquisas têm validade reduzida no sentido de apontar alguma posição definitiva, no máximo podem tratar de estabelecer zonas de segurança, mas se prestarmos atenção na totalidade de impressos, sites e letras que nos rodeiam, podemos ver que muitos deles faltam com os mais básicos parâmetros de usabilidade e, mesmo que inconclusivas e longe de definitivas, as pesquisas científicas conseguem trazer muita informação útil, e poderia, se ensinada nas escolas e faculdades de design, evitar pelo menos muita perda de tempo e de dinheiro.
É ilusão pensar que se está "rompendo"com alguma coisa ou fazendo algo de grandioso somente quebrando algumas regrinhas tipográficas. Se você estiver sendo ousado para um público que quer isso, que compra isso, nào vai estar fazendo nada mais do que resolver um problema, seja o problema de como fazer uma revista de música ser comprada por todos os designers do mundo ou seja como fazer uma revista de fofocas parecer o mais possível com uma revista de fofocas, mesmo que isso tenha como custo a precariedade da transmissão de informação.
O contexto atual, de mudança de meios e de mudança de tecnologia de apresentação, mais propriamente com a difusão da internet, traz um motivo a mais para a preocupação com essas questões. Talvez uma das coisas mais importantes é que toda a informação que precise, ou que se queira, ou que possa ser transmitida gratuitamente, pode ser viabilizada dessa maneira. Assim, se alguém acredita que essa informação é importante, ele pode disponibilizá-la para todos que consigam encontrá-la; e ao menos que essa informaçõa seja tão interessante qua a quantidade de pessoas que busque por ela seja tão interessante que viabiliza um patrocínio publicitário, ou tão útil que possa trazer algum benefício que compense um investimento solidário (de uma ong, empresa, universidade, indivíduos ou poder público, por exemplo), ela vai ser disponibilizada por algum leigo, que não vai receber par atorná-la o mai vendável possível, mas no máximo vai estar se esforçando para que as pessoas consigam ler. Isso faz com que novamente a importância dada à informação supere a necessidade de venda, e conseqüentemente, a aparência.
Somando isso ao fato de que a leitura num monitor de computador é precária, cansativa e problemática, aqui sim se justifica uma pesquisa extensiva, com divulgaçào abrangente, porque o tempo gasto com leitura no monitor faz, sim, diferença para a nossa saúde oculas, a nossa postura e a nossa compreensão; somado isso ao barulho do computador que distrai e perturba, nós temos um ambiente que por princípio já está oferencendo condições péssimas de leitura, e nesse caso, cdaa detalhe e cada erro podem ter conseqü6encias drásticas.
Assim, a conclusão que tem que ser feita é que as pesquisas precisam continuar a ser feitas, para o crescimento e o amadurecimento da disciplina que é o design gráfico, não ncecessariamente essa pesquisa de velocidade e efici6encia, amas uma pesuisa que leve em conta também a capacidade de alfabetização visual das pessoas, a capacidade de fugir dos gêneros e dosenso-comum, o conforto visual, o prazer da leitura, a compreensão do conteúdo, e deve ser feita constantemente, sistemáticamente. Os designers devem aceitar esses resutados como um desafio que deve ser desbancado (ou confirmado) pelo método científico também, não deve ser apenas um jogo de teimosia, e os cientistas devem também tomar as lições de um ofício de prática, um ofício de artesão, que se apura pela prática, pelos princípios, e sim, pela arte. Dentro desse ofício há lugar tanto para a experiência quanto para o deleite, tanto para o senso comum quanto para a excessão.